Sérgio Lucena e seus Códigos

Por Julia Augusto Pereira Lima

A exposição individual de Sérgio Lucena, Códigos, a 10a. de sua carreira, na galeria Lourdina Jean Rabieh, é uma amostra belíssima da fase mais madura do artista. Inaugurada em 5 de maio, traz 11 telas (de um total de 23) pintadas entre 2007 e 2011, da série “Aenigma Lucens”, ainda em curso, e representa o auge da abstração deste pintor paraibano, sua relação com a metrópole paulistana e sua fascinação pelo uso expressivo de cor e exploração da luz.  A seleção das obras para compor a mostra foi feita pelo próprio artista.
        A fase anterior de Sérgio, “Marinhas”, ainda explora o limite entre figuração e abstração, mostrando uma clara evolução da pintura.  A influência de Willian Turner, pintor inglês que viveu entre os séculos XVIII e XIX, se mistura à exploração da abstração. Vemos cores mais frias, apenas tons de azul, cinza, roxo e rosa, em representações do horizonte marítimo, algumas vezes calmo e pacífico e outras tempestuoso.
        Já neste conjunto, a primeira e mais marcante característica é a cor. Ele faz uso ora de cores vibrantes, viscerais, ora de cores frias e tons pastéis, mantendo, ainda assim, uma unicidade entre suas telas. Com pinceladas muito aparentes, as camadas de tinta são infinitas, o que nos dá uma ilusão de tridimensionalidade, de profundidade, ainda que não seja uma perspectiva clássica, de ponto único, acadêmica. As telas têm um aspecto muito trabalhado, de muita técnica e tempo. Há uma clara influência do pintor russo (naturalizado americano) Mark Rothko, tanto pelas formas geométricas que se revelam por detrás das muitas camadas de tinta, como pela escolha de certos tons vermelhos, marrons e roxo-azulados. 
        Outro efeito ilusório é a presença de luz em suas obras. As formas geométricas muitas vezes são fontes de luminosidade dentro da tela, outras vezes são buracos negros que sugam a luz para dentro de si. O efeito luminoso cria ilusões de profundidade e espaço dentro da pintura, reforçando a tridimensionalidade de seus trabalhos.


A variação cromática dentro de cada uma das obras é marcante: é possível encontrar diversos tons de uma única cor em cada trabalho, tons que às vezes nem sabíamos que existiam. As formas geométricas são outro traço marcante. Os círculos, que saltam da tela em direção ao espectador, remetem a uma certa mística do artista, presente em trabalhos anteriores. Já as obras que exploram os quadrados e retângulos nos remetem  à contemplação, como se estivéssemos olhando através de uma janela o universo deste pintor.
        Há uma grande angústia presente em alguns destes trabalhos. A tela no. 13/2009 se abre para nós como uma cela escura, uma fenda misteriosa, fora do alcance, com apenas uma insinuação de luz, sufocada, uma luz no fim do túnel que não chegará. Já a tela 08/2008 (fotografia) cria no espectador a sensação de calor e som, de acolhimento – é o coração desta série.
        São essas oposições e composições de cores e luminosidade que fazem das obras de Sérgio enigmas a serem decifrados através de longa contemplação, códigos que o artista cria que podem ser lidos por qualquer língua.


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