Peter Paul Rubens, As Três Graças (1639).
Por Mariano de Gregório
No filme Turnê, recém saído dos cinemas, é o próprio diretor Mathieu Amalric, o prodigioso cineasta francês de origem polonesa, a desempenhar o papel de ator protagonista: um conturbado empresário que leva um grupo de American New Burlesque (tradição da performance musical teatral norte-americana, ou movimento "new burlesque") para a França.
O protagonista é retratado em um momento crítico de sua vida e carreira, com uma complicada situação familiar, muitas dívidas e que acaba por perder a disponibilidade do teatro no qual esperava fazer uma série de espetáculos. Serão, porém, as “fellinianas” cinco mulheres, que compõem os membros do grupo, que Amalric leva em turnê pela França, todas gordas, sexys, belas e desinibidas, que o empurrarão a seguir em frente.
Tudo é colorido, a começar pelo vultuoso cartaz do filme. A música explode e o público não se segura com o show desavergonhado delas. São gordas e - sexy -, um verdadeiro atentado à ditadura da magreza das "barbies” atuais.
Logo a película transforma-se em um ato de amor às mulheres, a todas as mulheres, cada uma bela do seu jeito, no seu estilo.
O filme não deixa de ser um clássico produto cinematográfico por cinéfilos de carteirinhas.
O produtor da turnê, o próprio Amalric, começa desesperado, sem perspectivas...e aí as gordinhas transformam tudo. Aliás, o protagonista envolve-se em um relacionamento de atração-repulsa com uma das performers, a magnífica Dirty Martini, cuja inesgotável energia colora o filme de forma indelével.
A trama é uma pura idealização da vida on the road : comédia, drama ? Quem sabe! Com certeza uma celebração da vida como ela é!!!
A origem da trama do filme está em um texto de uma escritora francesa, Sidonie Gabrielle Colette. Ela foi atriz e teve participações em shows. Interpretações consideradas escandalosas na sua época, pois ela apresentava-se com pouca roupa. Tudo foi retratado no livro O Reverso do Music Hall.
Aliás, o filme nos oferece um interessante momento de reflexão pelo gritante contraste entre a beleza das gordas protagonistas e o atual padrão estético imposto pela indústria de beleza, de rigorosa magreza.
Porém, como é possível conferir em inúmeras obras de arte do passado, a cada época surgem novos estereótipos de beleza.
Enquanto na Idade Média o corpo foi coberto e negado, em conformidade com a perspectiva religiosa, com o Renascimento nasce uma nova concepção do mundo. A mulher renascentista passa a se cuidar e, sobretudo, a mostrar sem reticências o próprio corpo. A pintura renascentista retoma os cânones da arte grega voltando a representar a nudez.
Será, porém, o Barroco, em particular o belga Peter Paul Rubens (1577-1640), que retratando corpos femininos nos oferece uma visão de beleza que se reflete em mulheres volumosas, exuberantes e sensuais. As suas mulheres, em completa oposição aos padrões "barbies", possuem formas cheias. Aliás, o pintor “define a redondez como um critério essencial da beleza feminina". (Lichtenstein, Jacqueline. A Pintura. Textos essenciais. Vol. 6. A figura humana. (Trad.) Magnólia Costa. São Paulo : Ed. 34. 2004, p. 64)
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