o menino pegou um jeito de olhar de pássaro.
Ao abrirem a portinhola da gaiola ele voou
para o céu estrelado das artes.
Lá viu estrelas chamadas Platão, Argan
e Brunelleschi (assim mesmo, com dois éles).
Esbarrou nos cometas Tarsila, Vazari, Javé, Mercredi
e depois do horizonte de uma perspectiva
ele conheceu uma constelação de estrelas que teciam tratados.
Ouviu dizer que um meteoro-mestre-cuca chamada Giotto,
sabe preparar uma senhora “giornata”
com um molho à base de clara de ovos chamado afresco.
Mas, como o menino pássaro enxerga
as coisas todas inominadas,
afresco não era ainda a palavra afresco,
mimesis não era ainda a palavra mimesis.
E tal e coisa...
As palavras eram livres de etimologia
e podiam ficar em qualquer posição
da forma que o menino quisesse usar.
Podia dar à mímesis nome de flor,
podia dar ao afresco o formato de sol
e, se quisesse caber em uma giornata
era só abrir a palavra giornata e entrar dentro dela...
Neste céu estrelado, o menino pássaro
já aprendeu até o que é o sfumato,
invenção de um cara que dá vinte!
Mas, ao voltar seu pensamento nas fumaças
ele olha para baixo, e vê a gaiola com a porta entreaberta.
Uma saudade estranha bate em seu peito.
No fundo, bem lá no fundo, o menino pássaro espera...
Espera pelo seu segundo renascimento
pra saber em que barroco ele vai dar...
Celso Rabetti
arrasô celso! Jaque G.
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