Restauro Igreja Nossa Senhora do Carmo - SP




Por Jaqueline Gentilin

A equipe de restauro que trabalhava nas obras da Igreja Nossa Senhora do Carmo na Sé teve uma grande surpresa ao constatar que camadas sob a última e aparente cena da santa na nave principal da igreja havia uma outra imagem, ainda mais linda e de uma época ainda anterior.
Além da imagem central da santa rodeada de anjos e flutuando sobre nuvens com mais anjinhos barrocos ainda foram descobertos muito outros anjinhos, espalhados por todo o teto e de uma riqueza de cores fantásticas.
Todo o restante do teto, como a igreja, continuam sendo restaurados graças ao trabalho minucioso e cuidadoso destes profissionais que são nossos companheiros de profissão e de interesse pela arte.

Lembrando Gertrude Stein

Por Pedro Colucci Ribeiro

“No mesmo rio entramos e não entramos, somos e não somos”
Heráclito de Éfeso

            Eu olhando uma obra de arte, uma obra de arte eu olhando, olhando uma obra de arte. Eu olhando uma obra de arte. Obra de arte de obra de arte. Arte de obra de arte. Arte gerando perplexidade, perplexidade gerando arte gerando perplexidade gerando arte. Arte perplexa, perplexa arte. Perplexa arte perplexa. Arte perplexa arte. O indivíduo e a arte, a arte e o indivíduo. O indivíduo e a arte, a arte e o indivíduo. O indivíduo na arte, o indivíduo da arte, o indivíduo e a arte. A arte individualizada, a individualidade na arte. A individualidade na arte individualizada. A individualizada arte na individualidade.

MASP, Museu da Arte, do Social e da Política




Por Pedro Colucci Ribeiro          

Todos nós sabemos que o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, mais conhecido como MASP, é, desde a sua fundação em 1947, uma das mais importantes instituições culturais do país. Tendo uma das maiores e notáveis coleções de arte ocidental do hemisfério sul e uma biblioteca especializada em arte com mais de 60.000 volumes, o museu foi concebido e idealizado por Assis Chateaubriand e Pietro Maria Bardi, e surge da vontade de seus fundadores de adquirir várias obras de arte e formar no Brasil um museu de nível internacional.
            Antes localizado na Rua Sete de Abril, desde 1968 o MASP se localiza na Avenida Paulista em um edifício projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi em conjunto com o engenheiro José Carlos Figueiredo Ferraz. A construção tem uma área total de 10.000m² e é constituída por dois blocos, um subterrâneo e um outro suspenso a 8,5 metros do chão por quatro vigas de concreto, formando um vão livre de 74 metros de comprimento. O edifício é tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) e tornou-se, ao longo dos anos, um marco da cidade de São Paulo.
            Vê-se, porém, na última década, que ele tem sido utilizado para além da sua atividade artística: o vão do MASP virou palco das mais diversas manifestações populares. Lá ocorrem tanto as concentrações de passeatas em busca de melhores condições salariais para os professores da rede pública, quanto para a luta contra o aumento da passagem do transporte público e contra a homofobia. Há também várias ocorridas contra a corrupção e o aumento abusivo dos salários dos deputados, assim como as juridicamente não permitidas Marcha da Maconha Pamonha e posterior Marcha da Liberdade e Ato contra a violência policial. Além da face política, ocorrem eventos culturais, tais como a Troca Pública de Livros, e eventos comerciais, assim como a semanal feira de antiguidades.
            O vão do MASP tornou-se um lugar vivo e com uma energia pulsante, um local onde as pessoas se encontram e celebram, lutam pelos seus direitos e se posicionam contra uma sociedade opressora, desigual e irracional. Quando lá há concentrações, é o sorriso, o canto e a dança que prevalecem. A função política e social do espaço do MASP se juntou à sua extrema importância artística e cultural. A imaginação e desejo de outro mundo melhor se junta a energia avassaladora dos artistas expostos e parece que esse outro mundo é possível. E tenho certeza que ele é. Só basta querer.

O Velho Guitarrista Cego

Le Vieux Guitarriste Aveugle
Barcelona, Outono de 1903
Pablo Picasso

Por Sofia Clemente

O quadro de Pablo Picasso O Velho Guitarrista Cego tem como cena principal um velho que toca guitarra. Podemos observar que este quadro pertence ao período azul, não apenas pela sua cor, mas também pelos detalhes e as emoções que nelas enxergamos. Ao observarmos atentamente, vemos uma magreza doentia e seu corpo curvado que nos transmitem os sentimentos do artista naquele momento.
     Vejo e sinto uma certa melancolia, uma certa tristeza. Nosso olhar também é direcionado para seus dedos alongados. Ao observar o quadro atentamente, vemos que há um grande contraste entre luz e sombra: a luz está voltada principalmente para a cabeça do velho. A única cor que faz algum contraste com os azuis é o marrom do violão. Apesar de ele estar vestido com um sobretudo, este está colado a seu corpo, dando a sensação de que está despido.
      As linhas e os contornos da pintura são perfeitamente visíveis, mostrando assim uma continuidade, ou seja, uma perspectiva. Observamos também que o azul vai do mais claro para o mais escuro, tendo assim um degradé de cores. Vemos também ao fundo linhas sempre horizontais, dando a impressão de que o quadro continua. O espaço, no entanto, é limitado, dirigindo nosso olhar completamente para o homem velho.
       Na minha opinião, sua boca aberta pode significar uma forma de expressão, passa uma sensação de liberdade. Os olhos cerrados transmitem uma idéia de interiorização da pessoa.

Bienal de Veneza


Por Rafaela Priolli de Oliveira
           
A Bienal de Veneza mal começou e já está repercutindo no mundo todo, devido à curadora Bice Curinger ter sido chamada de “conservadora”. O motivo? Ter deixado praticamente de lado grandes países emergentes na arte contemporânea. Segundo sua escolha a grande parte dos 82 artistas expostos são americanos e 40 europeus A própria Curinger em sua defesa alegou: “Acabamos chegando a uma lista grande demais e decidimos cortar alguns nomes, tirando quem já tivesse participado da Bienal”, e justificou o Brasil não ter nenhum representante na exposição: “Todos os brasileiros que me agradam caíram nessa última categoria”.
Outro fator de estranhamento para muitos foi a escolha do pintor Tintoretto como guia da mostra, que busca recuperar a dimensão história das artes plásticas. Um pintor de séculos atrás se relacionaria com a arte contemporânea? De que forma? Para a curadora suíça, sua intenção é de fazer um elo entre o passado e futuro: “Arte contemporânea é muito autorreferente, só volta até o modernismo e não cruza essa linha, que parece ser um tabu. É interessante olhar para a história, ou histórias, no plural. Essa é minha proposta”.    
Apesar de todo o “conservadorismo” de Bice, pela primeira vez países como Índia, Bangladesh, Iraque e Arábia Saudita terão seus próprios pavilhões na exposição. Há também Andorra, África do Sul e Zimbábue provando que, apesar de todas as potências europeias e norte americanas, há um deslocamento na geografia da arte por meio do mercado com a tentativa de alavancar a imagem do país. Em entrevista, a curadora da seleção iraquiana, Mary Angela Schroth, diz: “É um momento histórico”.
O Brasil é representado apenas por Artur Barrio, português radicado no Rio de Janeiro, no pavilhão nacional. Mas pelo menos 17 artistas brasileiros ou radicados no país estarão em exposição em Veneza durante o evento.
Os maiores destaques da Bienal ficam para a dupla chinesa Birdhead, Song Tao e Ji Weiyu, que fazem séries de fotos representando as rápidas transformações ocorridas na China devido ao crescimento econômico. E para a russa Anya Titova, apontada como revelação, famosa por suas imagens dormindo em sua intimidade.   
Quem tiver a chance de viajar para Veneza ou estiver por lá, a Bienal foi aberta ao público dia 04 de junho e permanecerá visitável até 27 de novembro de 2011.

Padrões de beleza retratados no cinema e na pintura

  
Peter Paul Rubens, As Três Graças (1639). 
                                                            
Por  Mariano de Gregório

No filme Turnê, recém saído dos cinemas, é o próprio diretor Mathieu Amalric, o prodigioso cineasta francês de origem polonesa, a desempenhar o papel de ator protagonista: um conturbado empresário que leva um grupo de American New Burlesque (tradição da performance musical teatral norte-americana, ou movimento "new burlesque") para a França.

O protagonista é retratado em um momento crítico de sua vida e carreira, com uma complicada situação familiar, muitas dívidas e que acaba por perder a disponibilidade do teatro no qual esperava fazer uma série de espetáculos. Serão, porém, as “fellinianas” cinco mulheres, que compõem os membros do grupo, que Amalric leva em turnê pela França, todas gordas, sexys, belas e desinibidas, que o empurrarão a seguir em frente.

Tudo é colorido, a começar pelo vultuoso cartaz do filme. A música explode e o público não se segura com o show desavergonhado delas. São gordas e - sexy -, um verdadeiro atentado à ditadura da magreza das "barbies” atuais.

Logo a película transforma-se em um ato de amor às mulheres, a todas as mulheres, cada uma bela do seu jeito, no seu estilo.

O filme não deixa de ser um clássico produto cinematográfico por cinéfilos de carteirinhas.

O produtor da turnê, o próprio Amalric, começa desesperado, sem perspectivas...e aí as gordinhas transformam tudo. Aliás, o protagonista envolve-se em um relacionamento de atração-repulsa com uma das performers, a magnífica Dirty Martini, cuja inesgotável energia colora o filme de forma indelével.

A trama é uma pura idealização da vida on the road : comédia, drama ? Quem sabe! Com certeza uma celebração da vida como ela é!!!

A origem da trama do filme está em um texto de uma escritora francesa, Sidonie Gabrielle Colette. Ela foi atriz e teve participações em shows. Interpretações consideradas escandalosas na sua época, pois ela apresentava-se com pouca roupa. Tudo foi retratado no livro O Reverso do Music Hall.

Aliás, o filme nos oferece um interessante momento de reflexão pelo gritante contraste entre a beleza das gordas protagonistas e o atual padrão estético imposto pela indústria de beleza, de rigorosa magreza.

Porém, como é possível conferir em inúmeras obras de arte do passado, a cada época surgem novos estereótipos de beleza.

Enquanto na Idade Média o corpo foi coberto e negado, em conformidade com a perspectiva religiosa, com o Renascimento nasce uma nova concepção do mundo. A mulher renascentista passa a se cuidar e, sobretudo, a mostrar sem reticências o próprio corpo. A pintura renascentista retoma os cânones da arte grega voltando a representar a nudez.

Será, porém, o Barroco, em particular o belga Peter Paul Rubens (1577-1640), que retratando corpos femininos nos oferece uma visão de beleza que se reflete em mulheres volumosas, exuberantes e sensuais. As suas mulheres, em completa oposição aos padrões "barbies", possuem formas cheias. Aliás, o pintor “define a redondez como um critério essencial da beleza feminina". (Lichtenstein, Jacqueline. A Pintura. Textos essenciais. Vol. 6. A figura humana. (Trad.) Magnólia Costa. São Paulo : Ed. 34.  2004, p. 64)

Visita ao Museu de Arte Sacra de São Paulo (MAS)


Por Josinaldo Firmino dos Santos

Na visita ao Museu de Arte Sacra de São Paulo (MAS) foi possível perceber desde a construção do edifício as poucas influências que São Paulo recebeu do estilo Barroco de outros estados. O estilo mais amaneirado conjuntamente com as recriações do estilo Barroco feitos pelos artistas revelaram o saber-fazer daquela gente. Devido à localização da cidade no século XVII, alguns estudiosos chegam a dizer que esse período foi o grande adormecimento da economia e da produção artísitca de São Paulo, comparado às produções de outros estados.
Em uma das alas do museu fica o retábulo-mor com a imagem de Nossa Senhora Imaculada Conceição, as marcas do restauro são muito tímidas, mas é possível perceber mudanças nas cores mais vivas e na reconstrução de partes da face da imagem.
Chamados de bandeirantes, os retábulos paulistas subdivedem-se em quatro estilos: joanino (1740-1760), rococó (1760-1800), neoclássico e nacional-português. Há mistura de estilos, sendo muitas vezes difícil distingui-los e tachá-los, mas há características que predominam em cada um, como a presença de acabamento em dossel, joanino, fundo branco e colunas caneladas e retas, rococó.
 Ao percorrer as alas do museu, percebe-se que existe um predomínio de esculturas paulistas também denominadas bandeirantes, existem imagens em madeira policromada como o “Senhor Morto”, proveniente de Sorocaba, e o conjunto escultórico de N. Sra. do Desterro, de origem portuguesa, proveniente da catedral de Jundiaí. A imagem de Sant’ Ana Mestra, de barro cozido policromado, século XVIII, é proveniente da capela da fazenda de Guaratinguetá.
A arte colonial pauslita é fortemente influenciada pela presença dos padres jesuítas, principalmente em Santos, São Vicente e São Paulo. Predomina-se a produção de imagens de estilo maneirista, esse estilo foi muito usado também na construção das igrejas. As fachadas são simples, sem decorativismo, têm frontão triangular e robustez do conjunto.
Há ainda no final dos corredores, antes da exposição de Crucifixos, dois anjos de mestre Valentim, que parecem saltar da parede. Nesse mesmo corredor existem outras imagens que exemplificam o saber-fazer da região. Num outro corredor fica a imagem de “Sant’ Ana Mestra”, de Aleijadinho, destaque para o panejamento e expressão forte da figura, típicos do artísta.
O museu mantém exposições temporárias periodicamente, a exposição visitada (“CRUX, CRUCIS E CRUCIFIXUS - O UNIVERSO SIMBÓLICO DA CRUZ”) conta com o acervo de crucifixos do próprio museu e de outras instituições, em sua maioria, expressivos, dramáticos e típicos da arte colonial paulista. Há peças de diversas épocas, tamanhos e estilos de diversas regiões brasileiras. O fundamental nessa exposição é notar a importância desse símbolo para a religião católica e sua influência na produção da arte sacra nacional. No dia 7 de junho, o Museu promoveu a abertura de nova exposição: “Vestes sagradas”, com curadoria de Percival Tirapeli, que pretende apresentar a evolução da arte sacra em vestimentas e tecelagem.

Arquitetura em cheque


Por Carolina de Angelis Mologni

             Em recente entrevista dada à Folha de São Paulo, Diana Dorothèa Danon, desenhista documental que desde a década de 1960 faz registros da arquitetura paulistana, conta sobre as descaracterizações das construções das décadas passadas e lamenta sobre muitos desses prédios terem sido demolidos.
          Diana diz que há cinco décadas, enquanto andava pela cidade, começou a notar que alguma coisa estava mudando, os edifícios estavam sendo derrubados para dar lugar a novas edificações ou simplesmente viravam um terreno baldio. Para acompanhar a velocidade das demolições ela adotou a canetinha no lugar do nanquim. "A secagem é mais rápida e eu voltava com inúmeros desenhos no final do dia.", disse a artista.
          Uma seleção dos desenhos de Diana foi comprada pela Biblioteca Mário de Andrade. Entre eles, 32 que registram as décadas de 1920 a 1940, quando ganharam força o art déco e o modernismo. Ainda 15 desses imóveis existem e estão conservados, mas os outros 17 só sobreviveram no papel.
          A desenhista de 81 anos afirma que não vai parar de fazer seus projetos e dá um alerta que está na hora da nova geração se preocupar com esses patrimônios, pois agora aonde havia três casinhas se constrói um prédio e nossa memória vai se perdendo.

O Olhar



O curso Arte: História Critica e Curadoria, apresentou aos alunos, em pouquíssimo tempo, temas de grande importância. Citar todos os itens que nos chamaram a atenção seria impossível neste pequeno texto. Porém, um destes temas parece imprescindível destacar: Trata-se da questão do olhar sobre a obra de arte. Mais especificamente, da pintura.
Saber olhar, aprender a dirigir o olhar para uma obra, é de extrema significância, pois, não podemos esquecer o papel e a influência que uma obra de arte exerce sobre nós, seres humanos, uma vez que aperfeiçoa, aprimora e desenvolve a nossa sensibilidade para tudo aquilo que aparece diante de nossos olhos. A importância de desenvolver um olhar técnico em uma obra de arte é constatada, por exemplo, através do clássico modernista O Abaporu de 1928, pintado por Tarsila do Amaral.                                                                       
A princípio, vemos uma figura humana, um homem gigantesco, com deformação entre as partes do corpo. Ao seu lado, um cacto que nos revela algo irreal, porém mesmo tempo extremamente real.  Um céu bem azul, e um sol dentro de uma bola amarela.  A imagem solitária de um indivíduo triste, com cores que caracterizam o homem de nossa terra, nos faz refletir, o porquê e como houve este ato criativo, o que fez Tarsila do Amaral retratar em sua obra, inconscientemente ou conscientemente, um homem com essas formas tão desproporcionais e únicas? Não havia nas artes plásticas uma figura com características tão marcantes, uma ruptura, uma vontade de demonstrar. Somente com o passar dos anos Tarsila conseguiu descrever as pinturas desta fase “Só então compreendi que eu mesma havia realizado imagens subconscientes, sugeridas por estórias que ouvira em criança”.                                                                                                                                   
Até hoje ainda inspira muitas pessoas, que, ao olhar esta imagem, tão irreal, sentem uma certa identificação com este homem, o homem “Abaporu”, batizado em Tupi-guarani. “Aba” significa homem, e “poru” come, ou o “homem que come”.     Inspirou Oswald de Andrade a redigir o manifesto antropofágico, um retorno para a conscientização de nossos valores, de nossa história, um retorno ao homem brasileiro com seus costumes e crenças, uma identidade nacional, a que devora as influencias européias. 
Através desta imagem-símbolo, podemos pensar sobre a importância da imagem, que sempre esteve presente na história humana. Desde os primórdios, a imagem pode ser associada à magia e crença, como vemos nas pinturas rupestres que tinham um significado até mesmo ritualístico.
Uma imagem, quando ligada ao nosso intimo, reflete o nosso ser, pois através de uma obra de arte não nos limitamos, vamos além, imaginamos, sentimos. Além de ser uma forma de documentar a história do homem, ela nos ensina, com o tempo, a compreender e a observar a importância que o olhar tem em toda nossa vida, uma abertura para olharmos o nosso próprio mundo.
A contribuição de Tarsila do Amaral, e outros pintores de sua geração, para a história da arte brasileira, é positivamente incontestável, pois revelou, e ainda nos permite observar, através de seus belíssimos quadros, a beleza de um país tão diversificado como o Brasil e a autenticidade de elementos que sem as suas obras permaneceriam não revelados para todos nós.

Por Carolina Galvão Moreira de Araujo

Marcel Duchamp



Por Ana Paula Lopes

Marcel Duchamp pode ser considerado um dos maiores artista do século XX, artista que vai romper com a tradição. Pai da arte conceitual e dos ready-mades e que vai colocar a arte em crise. Agora arte não era apenas para ser admirada, mas sim pensada. Mudando assim, completamente o rumo da arte.
Henry Robert Marcel Duchamp foi um artista francês, nascido em 28 de julho de 1887 na cidade de Blainville, na França, e falecido em 02 de outubro de 1968 na cidade de Nova Iorque, EUA. Terceiro filho de sete irmãos, seis dos quais sobreviveram. Nascido numa família de artistas, pintores e escultores e numa atmosfera bem propicia, onde as tardes se tocavam musicas e jogavam xadrez.
Duchamp inicia sua carreira em 1905, estagiário numa gráfica onde adquire uma experiência tipográfica que, na verdade, como conta Duchamp na entrevista para Pierre Cabanne, foi um episodio engraçado de sua vida, pois prestou o exame para ser operador de arte, mas na realidade para escapar dos três anos de serviço militar obrigatório. Após um ano no serviço militar, ele foi para Paris, onde se inscreveu na Academia de Julian, ficando apenas um ano, pois preferia ir jogar bilhar a que ir ao ateliê, conta ele em sua entrevista. Também tentou a Escola de Belas Artes, mas foi reprovado.
Duchamp também trabalhou no Le Sourire e no Le Courrier Français onde fazia Cartoon, emprego este conseguido por intermédio do seu irmão Villon.
Entre os anos de 1906 e 1911, suas ideias transitaram pelos movimentos Fauvista e Cubista (grandes rupturas estéticas) e teve como grande influenciador de suas obras Henri Matisse (representante do Fauvismo).
Expôs pela primeira vez no Salão dos Independentes em 1909 duas telas, uma delas era uma paisagem de Saint–Could, vendida por cem francos e a outra, sem nome, um esboço de um nu, exposta novamente no Salão de Outono de 1911, vendida, então, para a bailarina americana Isadora Duncan.
Para Duchamp, a vida de pintor representava boemia, vivia-se, pintava-se, faz-se pintura porque se quer a tal liberdade, pois ninguém que viver num escritório.
Duchamp além de artista foi enxadrista, sendo filiado a vários clubes e viajou para vários torneios pelo mundo. O xadrez foi um grande influenciador de suas obras.
Duchamp e Picabia (pintor) se agrupam aos fotógrafos americanos Man Ray e Stieglitz e fundam a revista 291, onde antecipam vários temas do movimento dadaísta ao qual aderem em 1918.
Foi um dos grandes nomes ou o maior ícone do movimento Dadaísta, criada no Cabaré Voltaire em 1916, Zurique.
Quando estoura a Primeira Guerra Mundial, Duchamp deixa a França e desembarca em Nova Iorque, EUA. É recebido por alguns artistas e poetas americanos, elevando a sua moral e sendo admirado por muitas pessoas, fato que não acontecia em seu país de origem onde sua arte não era bem vista. Recebeu alguns convites para pintar para algumas galerias, mas não queria tirar da sua pintura seu sustento. Tornando-se, então, professor de francês.
Duchamp começa a transitar pelo eixo Nova Iorque-Paris.
Marcel Duchamp morre em 1968, deixando um grande legado na história da arte contemporânea. Foi um artista que influenciou movimentos e, como tantos outros, não foi compreendido em seu tempo. Teve trabalhos ignorados pelo público e por intelectuais da época, ignorado até pelo seu próprio país, só sendo reconhecido como grande artista na América, mudando assim a arte visual e a ideia do artista.
Artista inovador, pai da arte conceitual e dos ready-mades, colocou a arte em crise. Rompeu e quebrou com o academicismo. Contestou a arte, tornando o dadaísmo um estilo anti-arte. Desmistificou todos aqueles valores adquiridos por séculos, como a aura artística. Com os ready-mades, Duchamp retira ou coloca valor, fazendo assim questionamentos que vão perpetuar até hoje: O que é arte? Obra é obra por que está no museu? Colocou a arte em outro patamar, arte não era apenas para ser olhada, mas também para ser pensada. Interagindo com sua obra, o espectador já não é mais um simples observador e apreciador. A arte interage com o público fazendo com que este reflita sobre ela.
A obra de Duchamp é constituída por três elementos: arte, artista e público. Um não existe sem os outros e, mais que tudo, sua arte é provocativa, em todos os aspectos.

Sérgio Lucena e seus Códigos

Por Julia Augusto Pereira Lima

A exposição individual de Sérgio Lucena, Códigos, a 10a. de sua carreira, na galeria Lourdina Jean Rabieh, é uma amostra belíssima da fase mais madura do artista. Inaugurada em 5 de maio, traz 11 telas (de um total de 23) pintadas entre 2007 e 2011, da série “Aenigma Lucens”, ainda em curso, e representa o auge da abstração deste pintor paraibano, sua relação com a metrópole paulistana e sua fascinação pelo uso expressivo de cor e exploração da luz.  A seleção das obras para compor a mostra foi feita pelo próprio artista.
        A fase anterior de Sérgio, “Marinhas”, ainda explora o limite entre figuração e abstração, mostrando uma clara evolução da pintura.  A influência de Willian Turner, pintor inglês que viveu entre os séculos XVIII e XIX, se mistura à exploração da abstração. Vemos cores mais frias, apenas tons de azul, cinza, roxo e rosa, em representações do horizonte marítimo, algumas vezes calmo e pacífico e outras tempestuoso.
        Já neste conjunto, a primeira e mais marcante característica é a cor. Ele faz uso ora de cores vibrantes, viscerais, ora de cores frias e tons pastéis, mantendo, ainda assim, uma unicidade entre suas telas. Com pinceladas muito aparentes, as camadas de tinta são infinitas, o que nos dá uma ilusão de tridimensionalidade, de profundidade, ainda que não seja uma perspectiva clássica, de ponto único, acadêmica. As telas têm um aspecto muito trabalhado, de muita técnica e tempo. Há uma clara influência do pintor russo (naturalizado americano) Mark Rothko, tanto pelas formas geométricas que se revelam por detrás das muitas camadas de tinta, como pela escolha de certos tons vermelhos, marrons e roxo-azulados. 
        Outro efeito ilusório é a presença de luz em suas obras. As formas geométricas muitas vezes são fontes de luminosidade dentro da tela, outras vezes são buracos negros que sugam a luz para dentro de si. O efeito luminoso cria ilusões de profundidade e espaço dentro da pintura, reforçando a tridimensionalidade de seus trabalhos.


A variação cromática dentro de cada uma das obras é marcante: é possível encontrar diversos tons de uma única cor em cada trabalho, tons que às vezes nem sabíamos que existiam. As formas geométricas são outro traço marcante. Os círculos, que saltam da tela em direção ao espectador, remetem a uma certa mística do artista, presente em trabalhos anteriores. Já as obras que exploram os quadrados e retângulos nos remetem  à contemplação, como se estivéssemos olhando através de uma janela o universo deste pintor.
        Há uma grande angústia presente em alguns destes trabalhos. A tela no. 13/2009 se abre para nós como uma cela escura, uma fenda misteriosa, fora do alcance, com apenas uma insinuação de luz, sufocada, uma luz no fim do túnel que não chegará. Já a tela 08/2008 (fotografia) cria no espectador a sensação de calor e som, de acolhimento – é o coração desta série.
        São essas oposições e composições de cores e luminosidade que fazem das obras de Sérgio enigmas a serem decifrados através de longa contemplação, códigos que o artista cria que podem ser lidos por qualquer língua.


Giornata


Por viver algum tempo dentro de uma gaiola
o menino pegou um jeito de olhar de pássaro.
Ao abrirem a portinhola da gaiola ele voou
para o céu estrelado das artes.
Lá viu estrelas chamadas Platão, Argan
e Brunelleschi (assim mesmo, com dois éles).
Esbarrou nos cometas Tarsila, Vazari, Javé, Mercredi
e depois do horizonte de uma perspectiva
ele conheceu uma constelação de estrelas que teciam tratados.
Ouviu dizer que um meteoro-mestre-cuca chamada Giotto,
sabe preparar uma senhora “giornata”
com um molho à base de clara de ovos chamado afresco.
Mas, como o menino pássaro enxerga
as coisas todas inominadas,
afresco não era ainda a palavra afresco,
mimesis não era ainda a palavra mimesis.
E tal e coisa...
As palavras eram livres de etimologia
e podiam ficar em qualquer posição
da forma que o menino quisesse usar.
Podia dar à mímesis nome de flor,
podia dar ao afresco o formato de sol
e, se quisesse caber em uma giornata
era só abrir a palavra giornata e entrar dentro dela...
Neste céu estrelado, o menino pássaro
já aprendeu até o que é o sfumato,
invenção de um cara que dá vinte!
Mas, ao voltar seu pensamento nas fumaças
ele olha para baixo, e vê a gaiola com a porta entreaberta.
Uma saudade estranha bate em seu peito.
No fundo, bem lá no fundo, o menino pássaro espera...
Espera pelo seu segundo renascimento
pra saber em que barroco ele vai dar...

Celso Rabetti